No ringue dos conflitos mundiais, a ONU recebe, nesta sexta-feira, adversários já conhecidos. A Palestina, no canto direito, tenta vencer com a admissão de seu Estado como membro das Nações Unidas, enquanto, no canto esquerdo, Israel tenta fazer de tudo para impedir.
“Para ter reconhecimento como membro pleno das Nações Unidas, a Palestina precisa da aprovação do Conselho de Segurança, o que não vai acontecer porque os Estados Unidos já disseram que não vão aceitar”, explica o professor de Relação Internacionais da PUC Márcio Scalercio.
Os Estados Unidos são membros permanentes do Conselho de Segurança, o que significa que, seja qual for o resultado da votação, os americanos podem barrar a proposta palestina. Como a diplomacia de Obama já anunciou que usará esse poder veto, as chances de Abbas já são mínimas antes mesmo de o pedido ser oficialmente apresentado.
É claro que nada é certo ainda, já que a votação não ocorreu, mas Scalercio duvida que os Estados Unidos possam mudar de ideia, mesmo sabendo o quanto esse posicionamento “seria péssimo para eles”.
O professor se refere à reação do mundo árabe diante da proposta por um lugar palestino na ONU. Tanto o Egito quanto a Arábia Saudita já se mostraram a favor da adesão, o que os deixou extremamente exaltados com os americanos. Os sauditas declararam que o veto mudará a relação do país com os Estados Unidos, enquanto os egípcios preferiram se dirigir a Israel, dizendo que o acordo de paz que existe entre eles “não é sagrado”.
Para o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim AlZeben, no entanto, a situação norte-americana seria muito mais complicada do que as possíveis retaliações do mundo árabe.
“O veto vai gerar descontentamento geral, não só dos árabes. E os Estados Unidos vão ter que enfrentar essa realidade”, afirmou AlZeben.
Mas não é com receio que os israelenses enxergam o apoio mundial à questão palestina. Para o conselheiro político de Israel no Brasil, Leo Vinovezky, os próprios israelenses são a favor de que os palestinos tenham o seu próprio Estado. A questão, segundo ele, é: sob que condições?
De lá para cá, contudo, ataques fazem vítimas de ambos os lados e pouco avançou, “a não ser os assentamentos israelenses”, explica o professor de Relações Internacionais da PUC Márcio Scalercio.
Diante dessa situação de estagnação, o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim AlZeben, acredita que “seja hora de o mundo, como testemunha da boa vontade palestina, ver que (a postura atual) não está adiantando”.
Alzaben garante que a decisão palestina de pedir um lugar à ONU não tem por objetivo afrontar Israel. Não é uma questão de, segundo ele, pedir que Israel seja expulso das Nações Unidas, e sim que mais um membro seja adicionado.
Por outro lado os israelenses definem a iniciativa palestina como um pular de etapas nas negociações entre as duas nações. O conselheiro político de Israel no Brasil, Leo Vinovezky, vê o pedido por vias legais como “tragicômico”, uma ironia depois de mais de 60 anos de conflitos.
“As fronteiras têm que ser decididas com os vizinhos. A paz com Israel não precisa ser uma imposição, porque ela é possível, se for bilateral”, afirma Vinovezky.
Em uma tentativa de dissuadir o presidente palestino , Mahmoud Abbas, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, chamou o líder para conversar, voltar a negociar em vez de “perder tempo com medidas unilaterais e vazias”.
O grande argumento israelense, então, é que qualquer decisão que se refira à questão palestina precisa ser conversada entre as partes envolvidas no problema, ou seja, Israel e Palestina. Não é que a ajuda internacional não seja apreciada, pois, segundo Vinovezky, ela é muito bem-vinda. Mesmo assim, o conselheiro deixa claro o seu posicionamento: “com todo respeito à ONU, terceiros não podem impor acordos”.
O professor Márcio Scalercio, no entanto, não vê como os palestinos teriam outra alternativa.
“A Palestina é mais fraca que Israel, então quer compensar internacionalizando o processo de negociação”, explica.
Para o embaixador palestino no Brasil há, ainda, uma outra questão. Para ele, a proposta de adesão da Palestina à ONU sequer tem relação com as negociações de paz.
“Nós sabemos com quem o debate tem que ser, mas a admissão palestina na ONU não é assunto israelense, e sim uma questão de soberania palestina”, rebateu Alzaben.
O próximo round
Ambas as nações, independentemente da aprovação da proposta palestina na sexta-feira, reconhecem que o caminho ainda é longo.
O conselheiro político Leo Vinovezky vê a Palestina como um Estado prematuro, que exige reconhecimento, mas não coloca fim às ameaças nas fronteiras.
“Se a Palestina quer ser parte do conselho das nações, ela tem que se tornar uma nação. Não pode ser nação de um lado e rede terrorista de outro. Temos interesse em vizinhos tranquilos”, afirma.
Ainda assim, o embaixador palestino, que também denuncia as violências por parte de Israel, garante que, mesmo com a possível derrota na ONU, a luta continuará nas bases do Direito Internacional.
De acordo com Alzaben, a Palestina está disposta até a receber forças da ONU e da Otan. A única coisa que, para ele, é inaceitável, é a presença de soldados israelenses. “Israelenses, só como vizinhos ou turistas.”
0 comentários:
Postar um comentário