Partidários de Alassane Ouattara tentam capturar Laurent Gbagbo, presidente que se recusa a aceitar derrota eleitoral
Forças da oposição marfinense invadiram nesta quarta-feira a residência oficial do presidente Laurent Gbagbo, que desde as eleições de novembro se recusa a aceitar a derrota para Alassane Ouattara, reconhecido internacionalmente como o líder legítimo do país.
O porta-voz de Ouattara, Affounssy Bamba, disse que os opositores entraram na residência em Abidjan para expulsar Gbagbo, que desde terça-feira está escondido em um bunker no local. "No momento eles ainda não o capturaram, mas isso vai acontecer em breve", afirmou. "Eles abriram os portões e notaram que a residência está cercada de policiais fortemente armados. Agora o objetivo é capturar Gabgbo."
Na terça-feira, a crise na Costa do Marfim parecia se aproximar de uma solução quando a Organização das Nações Unidas (ONU) e a França disseram estar negociando a rendição de Gbagbo com três militares leais a ele. No entanto, horas depois Gbagbo disse que não está pronto para se render e reiterou que se considera o vencedor das eleições do ano passado. Segundo eles, as negociações são apenas para um cessar-fogo. "O Exército pediu a suspensão das hostilidades e está discutindo neste momento as condições para um cessar-fogo com as outras forças no terreno, mas no nível político não foi tomada nenhuma decisão", disse Gbagbo em entrevista por telefone à emissora de TV francesa LCI. Nos últimos dias, a oposição apertou o cerco contra Gbagbo, com a ajuda de ataques aéreos de forças da ONU e da França. Na terça-feira, o presidente americano, Barack Obama, voltou a condenar a resistência de Gbagbo e expressou “profunda preocupação” com a situação na Costa do Marfim.
A crise no país começou em novembro, quando o resultado das eleições - aprovado pela ONU - indicou a vitória de Ouattara. O governo, então, anulou o conteúdo de urnas no norte da Costa do Marfim, afirmando que houve fraude, e declarou Gbagbo vencedor.
Desde então o país vem sendo palco de disputas intensas entre forças leais aos dois lados, e na semana passada forças leais a Ouattara lançaram uma ofensiva militar para tentar retirar Gbagbo do poder.
Simpatizantes de Ouattara e de Gbagbo se acusam mutuamente pelas mortes causadas pela onda de violência. Segundo o Comitê da Cruz Vermelha Internacional, ao menos 800 pessoas teriam sido mortas.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que os ataques têm como objetivo proteger civis e não eram uma declaração de guerra a Gbagbo. O comandante das forças de paz da ONU no país, Alain Le Roy, disse que a decisão foi tomada com base em uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que autoriza esse tipo de ação.
Segundo ele, a intensidade do uso de armamentos pelas forças de Gbagbo e os calibres das armas vinham aumentando fortemente nos últimos dias. A missão da ONU no país também teria sido alvo de ataques contínuos, segundo ele.
A ONU anunciou ainda que enviará à Costa do Marfim um representante para investigar um massacre de centenas de civis na cidade de Duekoue, no oeste do país, na semana passada.