O martírio dos cristãos
O cristão morre por fidelidade ao Evangelho e a Cristo
Muitos cristãos, em todos os tempos, deram a vida pelo Evangelho e pelo Reino de Deus, imitando o próprio Cristo, que se entregou para a salvação do mundo. Jesus é o "Mártir dos mártires"; pois a Sua "entrega" foi voluntária. O Cristianismo venceu o Império Romano somente depois que milhares de mártires derramaram o seu sangue como tributo da implantação do Evangelho na Roma pagã.
Na verdade, em todos os lugares em que o Evangelho entrou e a Igreja floresceu, o sangue dos mártires foi derramado, como semente lançada na terra nova. Isso em todos os vinte séculos da vida da Igreja. Desde que o Sangue de Jesus caiu no solo deste mundo, muitos seguiram o Seu exemplo. E, na verdade, aí está a força maior da Instituição criada por Ele.
A história se repete. O século XX fez também com que os cristãos revivessem a era do martírio; não mais com anfiteatros e feras, mas em campos de concentração, masmorras solitárias e fuzilamento. Uma delegação da "Ajuda à Igreja que Sofre" visitou a China em setembro de 2004. Os representantes da instituição constataram, uma vez mais, as dificuldades que marcam o cotidiano das irmãs e irmãos católicos chineses. O sofrimento dos fiéis da "Igreja do Silêncio" chinesa surge retratado nos seus testemunhos, dados sob nomes fictícios por motivos de segurança.
O Papa João Paulo II disse:
"Estes dois mil anos depois do nascimento de Cristo estão marcados pelo persistente testemunho dos mártires. Também o século XX conheceu numerosíssimos mártires, sobretudo por causa do nazismo, do comunismo e das lutas raciais ou tribais. Sofreram pela sua fé pessoas das diversas condições sociais, pagando com o sangue a sua adesão a Cristo e à Igreja ou enfrentando corajosamente infindáveis anos de prisão e de privações de todo gênero, para não cederem a uma ideologia que se transformou num regime de cruel ditadura. Do ponto de vista psicológico, o martírio é a prova mais eloqüente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas perseguições mais atrozes". ("Bula Incarnationis Mysterium", nº 13).
O martírio cristão é diferente dos outros "martírios". O cristão morre por fidelidade ao Evangelho e a Cristo, ao passo que o maometano, muçulmano, morre por nacionalismo, fundindo entre si religião e etnia dentro de um contexto de "guerra santa". Jamais isso pode ser caracterizado como martírio, pois além de ser um suicídio, provoca a morte de pessoas inocentes.
O martírio é uma graça que Deus concede a alguns; nem por isso o cristão deve procurar o martírio, nem provocar os adversários da fé. A Igreja não aprova isso, pois poderia ser presunção e seria provocar o pecado do próximo ou dos algozes.
Para que haja martírio cristão é necessário que o fiel morra livremente por causa da sua fé. Não é qualquer pessoa que morra defendendo uma causa que é mártir. Tem havido confusão sobre isso ultimamente; às vezes são declarados, apressadamente, e sem o aval da Igreja, como "mártires", alguns que na América Latina defenderam alguma causa política, e não de fé. No entanto, para que a Igreja declare oficialmente que alguém é mártir da fé, são feitas pesquisas a respeito da verdadeira causa da morte; a livre aceitação da morte; graças ou milagres obtidos por intercessão do (a) servo(a) de Deus. O processo começa na diocese à qual pertencia a vítima e termina em Roma, na Congregação para as Causas dos Santos.
O século XX produziu muitos mártires, mais do que em toda a História da Igreja. Muitos fiéis foram sujeitos à tortura física, psíquica e moral mais requintada possível sem chegar a morrer. Muitos morreram no anonimato sem que alguém testemunhasse o seu heroísmo e sua glória. Não tiveram a graça de confessar frente ao mundo o nome de Jesus, embora tenham morrido por causa d'Ele.
Os mártires do século XX foram, muitas vezes, ignorados... na Alemanha, na URSS, na China, no México, na Espanha, em Cuba...; não era (nem é hoje ainda) possível saber o que acontece nos bastidores de um país totalitário. Apenas um exemplo:
Em 1945, a Albânia tornou-se uma República Popular sob a chefia de Enver Hoxha, que fez violenta opressão religiosa contra cristãos e muçulmanos. A perseguição desencadeou-se primeiramente contra os bispos, os religiosos e os missionários estrangeiros; e os fiéis que os defendiam, foram presos, torturados e, muitas vezes, mortos por recusarem denunciar publicamente os "crimes" do clero. Enver Hoxha, a conselho de Stalin, resolveu eliminar radicalmente a Igreja Católica. Em 1948 só restava um bispo católico com vida nas montanhas do Norte do país. Contudo, a Igreja naquele país continua mais viva do que nunca.
Da mesma forma, foram milhares de mártires cristãos na Revolução Francesa (1789): cerca de 17 mil sacerdotes e 34 mil religiosos foram mortos; na Revolução Russa (1917) e depois, milhares de mortos; na Revolução Mexicana (1926) foram centenas de bispos, padres, leigos; na Revolução Espanhola (1936/9) foram milhares assassinados (bispos, padres, leigos). E hoje a perseguição continua. O Vaticano nos informa que hoje há cerca de 200 milhões de cristãos perseguidos no mundo, especialmente nos países muçulmanos. "O sangue dos mártires – como disse Tertuliano no século III – continua sendo semente de novos cristãos".
Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com
Prof. Felipe Aquino, casado, 5 filhos, doutor em Física pela UNESP. É membro do Conselho Diretor da Fundação João Paulo II. Participa de aprofundamentos no país e no exterior, escreveu mais de 60 livros e apresenta dois programas semanais na TV Canção Nova: "Escola da Fé" e "Trocando