Denúncia vira arma da oposição e leva partidos aliados a cobrar em nomeações a conta pela defesa do ministro
A revelação de que o patrimônio do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, aumentou 20 vezes nos últimos quatro anos, uniu três forças insatisfeitas com o atual desempenho do governo Dilma Rousseff. À uma oposição dividida e carente de propostas, a denúncia contra Palocci deu um discurso capaz de uni-la. Aos partidos aliados, era o escorregão que eles aguardavam desde a votação do projeto de salário mínimo, quando foram levados a seguir a orientação do Planalto sem nada receber em troca. E no PT a crise desencadeada pela denúncia contra o ministro da Casa Civil expôs a briga interna por cargos importantes no segundo e terceiro escalões. O partido de Palocci almeja 104 cargos, para um apetite mais amplo, que envolve diferentes correntes e lideranças do partido. Em muitos casos estes postos são disputados por dois, três, até quatro nomes. Na condição de chefe da Casa Civil, Palocci é peça fundamental na escolha dos nomes, uma vez que todas as nomeações passam pela análise do seu ministério. Isso significa que, após cinco meses no cargo, ele já desagradou uma quantidade razoável de correligionários. Um dos setores mais insatisfeitos é o dos petistas que ocupavam cargos nos bancos públicos, cujas principais funções têm sido ocupadas desde o início do governo Lula, em 2003, por egressos do movimento sindical paulista. Um exemplo é a Caixa Econômica Federal (CEF), onde a presidência passou das mãos de Maria Fernanda Coelho para as de Jorge Hereda, e outras quatro vice-presidências e várias diretorias sofreram trocas de comando.
Tanto Maria Fernanda quanto Hereda são ligados ao PT, mas as mudanças provocaram tensões internas. Ligado ao senador Wellington Dias (PT-PI), Carlos Alberto Caser deixou a diretoria de Benefícios da CEF, gerando protestos. Ele assumiu a presidência da Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da CEF. O ex-vice-presidente de Atendimento e Distribuição da CEF, Carlos Augusto Borges, ligado ao deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), também deixou o posto e foi para a diretoria de Participações da Funcef. Berzoini, que teria sido prejudicado no remanejamento de cargos, negou que exerça influência em nomeações. “Estas pessoas não dependem de mim para ir a lugar nenhum. As indicações são do ministro Guido Mantega”, disse.
Outro exemplo é o Serpro, empresa de processamento de dados do governo, cujo presidente, Marcos Mazoni, é ligado à Democracia Socialista, corrente interna do PT que exigiu o controle da empresa com “porteira fechada”. Com isso, três diretores ligados a outras correntes do PT perderam seus empregos, gerando mais protestos e turbulências.
A próxima tarefa espinhosa de Palocci é definir o presidente do Banco do Nordeste, o BNB. O cargo hoje está nas mãos de Roberto Smith, que conta com apoio dos governadores do Ceará, Cid Gomes (PSB), Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e Bahia, Jaques Wagner (PT). Smith está ameaçado de perder o cargo para algum indicado do ministro da Fazenda, Guido Mantega (PT), que deseja alguém do mercado financeiro no posto.
“Somos contra a briga de PT com PT. Isso dificulta a formação do governo. Não queremos romper os acordos firmados”, disse o secretário de Organização do partido, Paulo Frateschi. “Mas nossa obrigação, até por termos a presidência, o projeto e a maior bancada na Câmara, é ocupar estes espaços. Seria um erro não ocupar”, completou Frateschi, que é aliado de longa data de Palocci e responsável, pelo PT, pela negociação dos cargos.
Nem todo mundo no partido concorda com o dirigente. Na última reunião do diretório nacional do PT, no final de abril, o ex-presidente do partido José Genoino tomou a palavra para pedir que o partido saia da disputa pelo segundo escalão em benefício da governabilidade de Dilma. Genoino argumentou que o partido já aumentou em número e importância sua participação no primeiro escalão.
Com a larga experiência de seis mandatos na Câmara, Genoíno sabe que o PT também precisa abrir espaço para nomeações de outras legendas. No Congresso, muitos parlamentares estão descontentes com as primeiras medidas do governo Dilma. No corte orçamentário, por exemplo, os ministérios do PT foram mais preservados do que os de outros partidos. Com a oposição exigindo mais explicações e a convocação de Palocci, os parlamentares da base aliada ganharam a chance de mostrar sua importância. Por ampla maioria, eles barraram a convocação de Palocci na Câmara, aliviando a pressão feita pela oposição. Mas esperam agora que o chefe da Casa Civil comece a liberar nomeações pedidas há mais de três meses.