“Desde quando era cardeal, Bento XVI mais de uma vez ressaltou como na Europa e no Ocidente, em geral, se joga uma partida crucial para o Evangelho, em todo o mundo. Em vista que se o Evangelho não consegue penetrar na cultura moderna ocidental, dificilmente poderia depois penetrar nas outras culturas distintas sempre mais fechadas em si e na manutenção das próprias diferenças”, conta o vigário do Papa na Diocese de Roma, Cardeal Camillo Ruini.
Este quadro, segundo Dom Ruini, foi a razão fundamental pela qual o Santo Padre desejou um novo Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, especialmente nos países de antiga tradição cristã que agora correm o risco de perder sua identidade de fé e de cultura.
Razão e fé
Para o vaticanista Sandro Magistero, a Encíclica Caritas in Veritate é a chave para entender o magistério ratzingeriano, sendo este um magistério que não se limita a repetir e reafirmar os fundamentos da Doutrina, mas em tudo explica a razão.
Eventos como o "Átrio dos Gentios", que buscou alcançar aqueles que não professam uma religião, mostram a preocupação e o empenho de Bento XVI para acolher esse fiéis do mundo contemporâneo.
A publicação do livro-entrevista de Peter Seewald, “Luz do Mundo”, teve grande repercussão e demonstrou também a capacidade de Bento XVI em comunicar de forma simples e direta conteúdos teológicos.
Dom Ruini recorda que já como cardeal, Joseph Ratzinger era visto como grande teólogo e também grande evangelizador, propondo uma visão da fé com uma linguagem muito clara e simples, jamais separada da realidade.
Para o vigário do Papa, a mensagem mais forte ressaltada por Bento XVI nesses seis anos é aquela de “colocar Deus no centro, colocar no centro aquele Deus que tantas correntes, tantas vertentes da cultura atual gostariam de deixar na marginalidade”.
Bento XVI e a mídia
“Humilde trabalhador da vinha do Senhor”: Foi assim que Bento XVI se descreveu ao assumir o pontificado, imagem esta que, segundo o vaticanista, foi possível ser comprovada pela opinião pública mundial.
Magistero salienta que antes da eleição, Joseph Ratzinger era visto como protetor dos dogmas, pois era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, por alguns até como um juiz perseguidor. Hoje os mitos foram dissolvidos, e no lugar se destacou a imagem do Papa que ama sua Igreja e a humanidade.
Liturgias pontifícias
O mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, monsenhor Guido Marini, destaca que as viagens e visitas apostólicas foram momentos de grande empenho de Bento XVI que trouxeram-lhe grande alegria espiritual.
Sobre o estilo celebrativo do Santo Padre, monsenhor Marini diz que este mirava sempre o “coração e a essência da liturgia, que é o mistério do Senhor celebrado, no qual todos são chamados a entrar e participar num clima de adoração e oração, e que também o momento de silêncio contribui para realizar e criar”.
“O Santo Padre é um mestre da liturgia. Ao mesmo tempo ele é um liturgista, porque nos ensina a arte da celebração”, define o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias.
Liberdade religiosa
Uma outra forte característica do Pontificado de Bento XVI é afirmação da importância da liberdade religiosa, não só por sua relevância central, já que esta é “mãe das outras liberdades”, mas pela circunstâncias atuais que a colocam em risco.
“A liberdade religiosa corre hoje grande perigo em diversos países do mundo. O Papa não podia deixar de lançar sua voz com toda sua força e autoridade para reafirmar este ponto fundamental da convivência pacífica entre os homens e, naturalmente, para a difusão da fé cristã”, enfatiza Dom Camillo Ruini.