A meta da SDA é ter cobertura vacinal acima de 90%. Adagri alerta para cuidados para acondicionar vacinas
Maranguape Nazareno Cordeiro era um rapazote quando viu a febre aftosa dizimar quase todo o rebanho da família. Era meados dos anos 1970, e Maranguape vivia um surto da doença. "Eu me lembro do meu pai derrubando o gado no pátio pra aplicar Benzocriol na língua e nos cascos. Era o remédio que tinha naquele tempo, além de chá de eucalipto com alho pra febre. Vacina por ali nem lembro se tinha", relembra.
No dia do lançamento da campanha contra a febre aftosa, ocorrido ontem em Maranguape, as 140 cabeças do seu Nazareno já estavam devidamente imunizadas. Um esforço que todos os pecuaristas devem abraçar a fim de que se consiga alcançar os 90% de cobertura, que é a meta da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA).
O lançamento da primeira etapa da vacinação foi na Fazenda Nazaré, mas desde domingo já circula uma campanha de mídia nos principais meios de comunicação. As revendas de vacina estão abastecidas, e fiscais da Agência de Defesa Agropecuária (Adagri) estão fiscalizando a temperatura das geladeiras e as condições de acondicionamento das ampolas.
Atualmente o Ceará é classificado como Área de Risco Médio de febre aftosa, e há mais de 10 anos não foi registrado nenhum caso da doença. Outros seis Estados do Nordeste estão com a mesma classificação: Alagoas, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Norte. Apenas Bahia e Sergipe são Áreas Livres com Vacinação.
"A importância da vacinação contr a febre aftosa se dá em três aspectos. Primeiro, a questão da saúde e do bem-estar dos rebanhos, que deve ser garantida pelo criador. Segundo pela segurança alimentar, já que carne, leite e derivados fazem parte da nossa alimentação e as condições fitossanitárias devem ser resguardadas. E por último, a vacinação é importante pelo aspecto econômico, a partir do fortalecimento da nossa pecuária e o acesso a novos mercados", argumenta o titular da SDA, Nelson Martins.
Procedimento
Para imunizar o rebanho com segurança, o criador deve estar atento a alguns cuidados. A vacina deve ser mantida numa temperatura entre 2°C e 8°C, e transportada num isopor com gelo lacrado com fita adesiva. Recomenda-se que a aplicação seja feita assim que a vacina chegar à propriedade. Todas essas medidas são para evitar que a vacina perca sua eficácia. Uma dose da vacina custa entre R$ 1,50 e R$ 2,00 e a imunização dura seis meses.
"O produtor também deve exigir da revenda a nota fiscal da vacina. Depois de vacinar o rebanho, ele deve ir com a nota fiscal a um dos escritórios da Adagri para pedir a declaração de vacinação. Esse documento vai permitir que o gado seja transportado e comercializado", explica Nelson Martins.
Segundo o presidente da Adagri, Augusto Júnior, 70 fiscais agropecuários estão envolvidos na fiscalização das revendas de vacina. Além disso, serão feitas imunizações assistidas durante a campanha. Na imunização assistida, são escolhidas de forma aleatórias propriedades a serem visitadas pela Adagri, e feita a vacinação.
Sorologia
Também participou do lançamento a superintendente federal de Agricultura no Ceará, Maria Luísa Rufino, que representa o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ela disse que, até junho, os sete Estados nordestinos atualmente em Risco Médio devem cumprir um cronograma de metas, como emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA), estabelecimento de barreiras sanitárias, atualização do cadastro dos pecuaristas, entre outros. Em julho, técnicos do Mapa virão ao Ceará para colher amostras de sangue de animais e fazer a sorologia. "É importante que os setes Estados do Nordeste em Risco Médio mudem de classificação em bloco. Se o Ceará, por exemplo, não conseguir cumprir as metas, vai acabar isolado", alerta Maria Luísa.
No ano passado, a segunda etapa da campanha de vacinação alcançou 86% de cobertura. No início de 2010, foi feita uma atualização do cadastro dos criadores e constatado que 37 mil deles estavam inadimplentes com a vacinação. Uma série de medidas foram adotadas, inclusive a vacinação compulsória e aplicação de multa. Hoje o Ceará tem um rebanho de 2,5 milhões de cabeças e 140 mil criadores de gado.
Com relação à estrutura e contratação de pessoal, outra exigência do Mapa, o secretário do Desenvolvimento Agrário disse que a meta do Governo do Estado é ampliar a estrutura e melhorar o atendimento nos escritórios do interior. Atualmente, há 100 fiscais e 120 agentes agropecuários aprovados no último concurso público para a Adagri a serem chamados, mas até o momento não há previsão de quando isso irá acontecer.
REBANHO
Estado quer imunizar mais de 90%
Cariri vacinou quase todo o seu rebanho bovino ano passado. Em 2011, a meta é aumentar este número
Crato Com um rebanho de 260 mil cabeças, o Cariri vacinou, no ano passado, mais de 90% do seu plantel. A informação é do gerente regional da Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Ceará (Ematerce), Adonias Sobreira, acrescentando que, este ano, a perspectiva é maior, assim como no Estado. Os pecuaristas já se conscientizaram da importância da vacina. Aqueles que não vacinaram o rebanho, segundo Adonias, foram notificados e compareceram ao escritório da Ematerce para regularizar a situação.
A meta é sair da classificação de Risco Médio para Zona Livre com vacinação. Os benefícios obtidos com a erradicação e controle da febre aftosa, de acordo com o gerente da Ematerce, são imensuráveis, quando se contabilizam os lucros financeiros que serão obtidos pela eliminação da doença, como a manutenção do índice de boa produtividade pela eliminação das perdas de carne e leite, eliminação dos custos financeiros e operacionais que serão gastos com a vacinação e a conquista de novos mercados.
Consequências
O presidente da Associação dos Criadores do Crato, Ricardo Macedo de Biscúcia, adverte que a gravidade da aftosa não decorre, exclusivamente, das mortes que ocasiona, mas, principalmente, dos prejuízos econômicos, atingindo todos os pecuaristas, desde os pequenos até os grandes produtores. "As propriedades que têm animais doentes são interditadas; a exportação da carne e dos produtos derivados torna-se difícil; provoca aborto e infertilidade; os animais doentes podem adquirir com maior facilidade outras doenças, devido à sua fraqueza", justifica o pecuarista.
Biscúcia reclama da exigência da Guia de Transporte Animal (GTA) para o mesmo Município. Ele explica que, quando transporta o gado de uma fazenda para outra, é obrigado a apresentar o documento. O problema, segundo o pecuarista, não é o valor a ser pago. "É a burocracia para conseguir a licença", complementa. A GTA é o documento que permite a circulação do animal fora da propriedade. Só é liberado, se o animal estiver vacinado.
Para o empresário e pecuarista Geraldo Pinheiro Lima, integrante do Grupo Gestor da Expocrato, a vacinação, além de ser uma exigência sanitária, é uma necessidade econômica. "Com certeza, vai melhorar a qualidade genética do gado a ser exposto na Expocrato e, consequentemente, o preço", analisa. "Com isso, a saúde do rebanho e o crescimento da economia".
O advogado e pecuarista Leopoldo Martins tem dois motivos para vacinar o plantel de sua vacaria. O primeiro deles, segundo afirma, é o cumprimento da Lei. O produtor que deixar de vacinar poderá ser multado. A ficha de movimentação do rebanho poderá ser bloqueada e a propriedade interditada. Depois de vacinar, o pecuarista tem um prazo de até dez dias para comprovar a imunização antiaftosa. O outro é a necessidade de zelar pela sanidade de seus animais. "A vacina dá tranquilidade ao criador", orienta Leopoldo.
O veterinário Ricardo Pierre adverte que, quando o animal é infectado, as produções de leite e carne diminuem; as fêmeas abortam e os bezerros correm risco de morrer; os criadores ficam impedidos de comercializar os animais. Consequentemente, os alimentos derivados do leite e do animal doente colocam em risco a saúde das pessoas. Pierre acrescenta que não existe tratamento contra a Febre Aftosa, somente a vacina.