A revista inglesa The Economist publicou, nesta quinta-feira, artigo que considera a "faxina" ministerial da presidente Dilma Rousseff uma tentativa de "drenar o pântano" político instaurado em Brasília. De acordo com a revista, em menos de oito meses a presidente se viu "sugada para o interior do lodaçal que é Brasília" e, diante disso, reagiu "firmemente a escândalos de corrupção".
Em sua gestão, quatro ministros já deixaram os cargos em virtude de denúncias de enriquecimento desproporcional (Antonio Palocci, ex-Casa Civil), irregularidades (Alfredo Nascimento, ex-Transportes, e Wagner Rossi, ex-Agricultura) e declarações polêmicas (Nelson Jobim, ex-Defesa).
Para o periódico, Dilma se esforça para manter o orçamento em controle e para preencher cargos de acordo com mérito, em detrimento de conexões políticas. As demissões promovidas pela chefe do Executivo no Ministério dos Transportes levaram o PR, que comanda a pasta, a deixar a base governista na última terça-feira.
O texto do Economist destaca a agilidade da presidente em demitir envolvidos em denúncias de corrupção, salientando que "com tudo isso, a sra. Rousseff está gradualmente impondo seu próprio carimbo a um governo que ela herdou de seu predecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva".
Ainda assim, a revista aponta que a postura de Dilma tem causado tensão na base governista, constituída por membros interessados "não em ideologia, mas na extração de cargos e dinheiro para ganho pessoal ou financiamento de partidos pelo governo. Eles (esses membros) estão incomodados com a tentativa da sra. Rousseff de reescrever as regras do jogo". De acordo com o artigo, integrantes do PT e do PMDB tentam persuadir a presidente que distribuir cargos entre os aliados é um "pequeno preço" a ser pago pela governabilidade, caso contrário o Congresso deve retaliar impondo um salário mínimo nacional para policiais e bombeiros e forçando o governo federal a gastar mais na área de saúde. A queda do ministro da Agricultura
Em decisão que surpreendeu a própria presidente Dilma Rousseff, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi (PMDB), pediu demissão no dia 17 de agosto de 2011, após uma série de denúncias contra sua pasta e órgãos ligados a ela. Em sua nota de despedida, ele alegou que deixava o cargo a pedido da família e afirmou que todas as acusações são falsas, tendo objetivos políticos como a destituição da aliança de apoio à presidente e ao vice, Michel Temer.
A revista Veja publicou, no final de julho, denúncias do ex-diretor financeiro da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) Oscar Jucá Neto de que um consórcio entre o PMDB e o PTB controlaria o Ministério da Agricultura para arrecadar dinheiro. O denunciante é irmão do senador Romero Jucá, líder do governo no Senado, e foi exonerado após denúncia da própria revista de que teria autorizado o pagamento de R$ 8 milhões a uma empresa "fantasma".
Outra reportagem afirmou que um lobista, Júlio Froés, atuaria dentro da pasta preparando editais, analisaria processos de licitação e cuidaria dos interesses de empresas que concorriam a verbas. Segundo a revista, o homem teria ligações com Rossi e com o então secretário-executivo do ministério, Milton Ortolan. Ambos negaram envolvimento, mas Ortolan pediu demissão em 6 agosto. Em seu lugar foi escolhido o assessor especial do ministro José Gerardo Fontelles, que acabou assumindo o lugar do próprio Rossi interinamente.
No dia 16 de agosto, o Correio Braziliense publicou reportagem que afirmava que Rossi e um filho sempre são vistos embarcando em um jato da empresa Ourofino Agronegócios. Conforme a publicação, o faturamento da Ourofino cresceu 81% depois que a empresa foi incluída como fornecedora de vacinas para a campanha contra a febre aftosa. O ministro admitiu que pegou "carona" algumas vezes na aeronave, mas negou favorecimento à empresa e disse que o processo para a companhia produzir o medicamento teve início em 2006, antes de ir para o ministério. Contudo, a Comissão de Ética da Presidência anunciou que iria analisar a denúncia. Por fim, no dia em que Rossi decidiu pedir demissão, o ex-chefe da comissão de licitação da pasta Israel Leonardo Batista afirmou, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que Fróes lhe entregou um envelope com dinheiro depois da assinatura de contrato milionário da pasta com uma empresa que o lobista representava. A Polícia Federal instaurou um inquérito para tratar o caso.