O Livro de Esdras é um dos livros históricos do antigo testamento da Bíblia, vem depois de II Crônicas e antes de Livro de Neemias. Possui dez capítulos. Conta a história repatriados, desde o retorno do exílio até o ano 400 AC tendo por foco a vida de Esdras, copista das Escrituras Hebraicas, a saída do retorno do exílio (cativeiro) de Babilônia.
Os livros de Esdras e Neemias formavam apenas um único Livro de Esdras, composto antes de I Crônicas e II Crônicas, como se verifica na Bíblia Hebraica e na Bíblia dos Setenta, sendo que a Igreja Ortodoxa Grega) também conta com um livro denominado Esdras I, inexistente na Bíblia adotada pela Igreja Católica, que costuma referir-se a este outro livro como Esdras III (apócrifo), enquanto que os livros de Esdras e de Neemias são reunidos, na Bíblia dos Setenta, em um único livro chamado de Esdras II.
A Tradução Ecumênica da Bíblia sustenta que haveria um único autor para I Crônicas, II Crônicas, Esdras e Neemias, que seria provavelmente um levita, e que sua redação não teria ocorrido antes de 350 AC nem depois de 250 AC, mas haveria adições posteriores a 200 AC.
Perspectiva panorâmica (sumário)
§ O Edito de Ciro - Esdras 1
§ Lista dos deportados repatriados - Esdras 2
§ Restabelecimento do culto - Esdras 3
§ Obstrução por parte dos inimigos de Judá - Esdras 4:1-5
§ Troca de correspondências durante o reinado de Xerxes e Artaxerxes - Esdras 4:6-24
§ Construção da Casa de Deus - Esdras 5:1-6,18
§ A Páscoa - Esdras 6:19-22
§ O escriba Esdras - Esdras 7:1-10
§ A carta de Artaxerxes - Esdras 7:11-28
§ Os companheiros de Esdras - Esdras 8:1-14
§ Viagem de Esdras a Jerusalém - Esdras 8:15-36
§ Oração de humilhação de Esdras - Esdras 9
§ Despedida das mulheres estrangeiras - Esdras 10:1-17
§ Lista dos culpados - Esdras 10:18-44
Perspectiva teológica
Duas grandes mensagens emergem de Esdras: a fidelidade de Deus e a infidelidade do homem.
Deus havia prometido através do Profeta Jeremias (25.12) que o Cativeiro babilônico teria duração limitada. No momento apropriado, cumpriu fielmente a sua promessa e induziu o espírito do rei Ciro II da Pérsia a publicar um édito para o retorno dos exilados (1.1-4).
Fielmente, concedeu a liderança a Zorobabel e Esdras, e os exilados são enviados com despojos, incluindo itens que haviam sido saqueados do templo de Salomão (1.5-10)
Quando o povo desanimou por causa da zombaria dos inimigos, Deus fielmente levantou Ageu e Zacarias para encorajar o povo a completar a obra. O estímulo dos profetas trouxe resultados (5.1,2).
Finalmente, quando o povo se desviou das verdades da sua palavra, Deus fielmente enviou um sacerdote dedicado que habilidosamente instruiu o povo na verdade, chamando-o à confissão de pecado e ao arrependimento dos seus caminhos perversos (caps. 9-10).
A fidelidade de Deus é contrastada com a infidelidade do povo. Apesar do seu retorno e das promessas divinas, o povo se deixou influenciar pelos seus inimigos e desistiu temporariamente (4.24).
Posteriormente, depois de completada a obra, de forma que pudesse adora a Deus em seu próprio templo (6.16.18), o povo se tornou desobediente aos mandamentos de Deus; desenvolve-se uma geração inteira cujas “iniqüidades se multiplicaram sobre as vossas cabeças” (9.6). Contudo, como foi dito acima, a fidelidade de Deus triunfa em cada situação.
Perspectiva histórica
§ 586 AC: Exílio na Babilônia
§ 539 AC: Ciro II da Pérsia derrota a Babilônia
§ 538 AC: Edito de Ciro II da Pérsia, permitindo a repatriação dos exilados Esd 1
§ 537 AC: Primeiro grupo de repatriados com Sasabassar; recomeça o culto Esd 2-Esd 3
§ 536 AC: Preparativos para a reconstrução do Templo; obstáculos internos e externos Esd 4-Esd 5
§ 520 AC: Atividade dos profetas Ageu e Zacarias
§ 518 AC: Obras do Templo interrompidas e retomadas Esd 5-Esd 6
§ 515 AC: Dedicação do Templo Esd 6
§ 448 AC: Uma colônia de judeus muda para Jerusalém Esd 4,8-22
§ 429 AC: Artaxerxes autoriza Esdras a promulgar a Lei Esd 7-Esd 8
§ 428 AC: Reformas de Esdras Esd 9-Esd 10.
Perspectiva política
A obra procura mostrar a reconstrução da comunidade judaica, reunida em Jerusalém e centrada no culto e na lei. Sob o domínio persa, foi concedida aos judeus uma oportunidade para recuperar e preservar a sua identidade como povo: a tradição religiosa dos antepassados, que agora se transforma em lei. No contexto pós-exílico, o Templo passa a ser o centro da vida da comunidade, como lugar de culto e da transmissão da lei, que fornecem a estrutura social da comunidade.
A obra não se resume a uma narrativa, pois pretende discutir e abrir perspectivas sobre a estrutura da própria comunidade judaica, sendo que a questão central é determinar qual a liderança que vai governar, nesse contexto, quando se propõe reestruturar a sociedade a partir da religião, a primeira conclusão é que os sacerdotes devem liderar o povo, no entanto, resta determinar o sacerdócio legítimo.
No exílio, os sacerdotes tinham elaborado complicadas genealogias para ligar Sadoc a Aarão, o que indicava a legitimidade dos descendentes de Sadoc, no entanto, restava resolver a questão da legitimidade dos levitas, que também seriam descendentes diretos de Aarão.
Desde o tempo de Salomão, os levitas tinham sido expulsos do Reino de Judá 1Rs 2,26-27 e passaram a exercer suas atividades entre as tribos do Norte, que formaram o Reino de Israel Setentrional. Ligados aos profetas, eles preservaram e produziram tradições que formaram o Livro do Deuteronômio, o qual influenciou grandes reformas no Reino de Judá, entretanto, depois do exílio, esses levitas se viram reduzidos a meros empregados dos sacerdotes.
O autor dessa obra, que provavelmente era um levita, busca reabilitar historicamente a figura do levita e, assim, reivindicar sua importância ao lado do sacerdócio para o governo da comunidade, mas seu objetivo não se resume a defender o interesse dos levitas, o que se pretende é resgatar a tradição profética, conservada pelos levitas, a fim de que a comunidade judaica não fique reduzida ao culto formal, mas seja capaz de se organizar socialmente, segundo o projeto de Javé, dentro da legítima tradição do Livro do Êxodo.
Essa tradição fora transmitida pelos levitas, que procuravam atualizá-la e aplicá-la às situações concretas, visando sempre em primeiro lugar à causa do povo e à defesa de uma sociedade justa e igualitária, pode-se, portanto, dizer que essa obra histórica é uma grande reivindicação para a reabilitação daqueles que se colocam como defensores dos interesses do povo, protegendo-o de possíveis arbitrariedades, tanto internas como externas.
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