Reunião em Paris entre a chanceler alemã e o presidente francês deve ditar o posicionamento europeu em relação à crise das dívidas soberanas
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy reúnem-se nesta terça-feira, às 16h00 em Paris (11:00 no horário de Brasília), para discutir medidas para os problemas europeus. Os países respondem, respectivamente, pelo maior e pelo segundo maior PIB da zona do euro – e, consequentemente, o que seus líderes decidem têm peso significativo na definição das políticas locais. Entre os temas em pauta estarão novas ações para contornar a crise da dívida europeia, medidas para impulsionar a economia da região, a melhoria da governança do bloco e a busca de um posicionamento comum para a política externa. Na manhã desta terça, o encontro ganhou novos contornos, com a divulgação de que a economia da União Europeia cresceu apenas 0,2% no segundo trimestre - o que caracteriza uma desacelaração da recuperação econômica do bloco.
No caso da economia alemã, a desaceleração do crescimento - que ficou em 0,1% - foi uma surpresa, visto que as previsões apontavam para uma alta de pelo menos 0,5%. No primeiro trimestre do ano, os bons dados alemães (+1,3%) e franceses (+0,9%) haviam empurrado o crescimento para cima, uma aceleração da recuperação que não teve continuidade nos últimos meses.
Os assuntos mais urgentes a serem discutidos referem-se às ações para alavancar a economia e afastar o contágio das turbulências geradas pela dívidas soberanas de algumas nações da região. Entre elas está o chamado “sixpack”, um pacote com seis leis, cujo objetivo é aumentar a austeridade fiscal e tentar promover o crescimento econômico. O plano, que ainda não foi apreciado pelo parlamento europeu, inclui pontos controversos, como a imposição de sanções em caso de endividamento público excessivo por parte dos países europeus.
Merkel e Sarkozy também devem discutir o funcionamento do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, que opera como uma espécie de Fundo Monetário Europeu (FEEF) para ajudar os países mais frágeis do grupo. Dotado inicialmente de 440 bilhões de euros, o FEEF já disponibilizou seus recursos a membros da chamada periferia da zona do euro. A principal discussão será uma possível agilização da flexibilização das regras de funcionamento do fundo; que poderia, por exemplo, passar a ceder linhas de crédito e até participar da recapitalização dos bancos. Outra possibilidade é que os recursos sejam utilizados para adquirir títulos da dívida dos países.
Eurobônus – Embora o tema seja tabu para Berlim, uma das medidas que pode ser levada à mesa de negociação de Sarkozy e Merkel é a emissão de eurobônus para conter as crises de confiança sobre a solvência de nações europeias. Como Espanha e Itália, para pegar os exemplos mais recentes, têm enfrentado dificuldade para captar recursos – já que o mercado, temeroso de um calote, vinha requisitando juros cada vez maiores para participar das transações –, uma proposta é que esses empréstimos passem a ser feitos em nome de toda a zona do euro (por meio dos eurobônus). Desta maneira, as economias mais frágeis seriam protegidas pelas mais fortes. O juro destas emissões seria uma média do que é cobrado dos diferentes países. A Alemanha opõe-se a isso porque goza de uma das taxas mais vantajosas e poderá sair perdendo. Já a França – que também enfrenta especulações de que terá sua nota de classificação de risco rebaixada – pode se posicionar a favor.
Os líderes também cogitam reforçar o Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), que limita o déficit a 3% e a dívida a 60% do PIB. Neste caso, o direcionamento das medidas estaria em multiplicar os esforços para garantir a sustentabilidade das finanças públicas dos integrantes da união monetária com sanções automáticas para os países que infringirem metas. Outra proposta a ser discutida é a formação de um Conselho de Estabilidade Europeu, como sugerido pelo ministro da Economia alemão, Philipp Roesler.
Apesar das dificuldades enfrentadas nas últimas semanas por Espanha e Itália, não está prevista a discussão de nenhum novo pacote de resgate econômico.
Política externa – Além dos problemas da zona do euro, o presidente francês e a chanceler alemã devem discutir o posicionamento do bloco em questões de política externa, especialmente no que diz respeito aos conflitos no Oriente Médio. A situação na Síria e na Líbia, além do reconhecimento da Palestina como estado independente, deve entrar na pauta.
Após dias turbulentos, os mercados europeus abriram esta semana em alta por causa de bons números vindos do Japão e de acordos corporativos que movimentaram a economia dos Estados Unidos, como a compra pelo Google da divisão de celulares da Motorola.
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