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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Formação: O ciúme exagerado

Que o passado não seja o determinante do nosso presente
A língua grega classifica o Amor em três formas distintas. Eros: amor romântico, é caracterizado quando se ama além do amor philos-amizade, aplica-se a relacionamentos bem como a união. Philos: amor virtuoso e desapaixonado. Denota amor entre amigos e familiares. Ágape: afeição mais ampla que o Eros, sentimentos não carnais. Na literatura bíblica significa autossacrifício, para todos, amigos ou mesmo inimigos.
No "sentimento da paixão" predomina a forma "Eros", caracterizada pela atração física, desejo, contemplação da beleza. É um amor que busca recompensa, ainda que seja simplesmente da presença da pessoa amada. A pessoa apaixonada pensa em satisfazer suas expectativas no (a) parceiro (a).
O Eros é a face que melhor representa e torna possível a aspiração que o próprio Senhor depositou no gênero humano – em ter alguém único (a) e que o (a) complemente: "Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne" (Gn 2, 24). É vocação, inscrita no íntimo do ser: "A vocação para o Matrimônio está inscrita na própria natureza do homem e da mulher, conforme saíram da mão do Criador" (Catecismo da Igreja Católica, n. 1603).
A afetividade e sexualidade pedem complemento, por isso necessitamos nos relacionar com outras pessoas. Mas, no caso da vocação ao amor esponsal – apaixonado - , com a capacidade de amar Eros, é natural que vislumbremos o (a) outro (a) como parte de nós. Isso é maravilhoso, é um chamado dado pelo Senhor, é o desejo de Deus para o ser humano. No entanto, se não bem compreendida e experienciada por um coração, da capacidade de amar pode derivar-se a tendência em ter um sentimento de posse em relação ao (à) parceiro (a) e não de complemento.
Quando se tem um relacionamento amoroso com alguém é natural sentir ciúme. Afinal, estabelecemos um compromisso com a outra pessoa, no qual entregamos algo de nós muito precioso, que passa a não depender mais dos nossos cuidados. Para o (a) amado (a), confiamos a nossa verdade, a honra e os afetos. Consideramos a outra pessoa como esse complemento, parte de nós mesmos, extensão do nosso ser, ou no caso do namoro, um aspirante a ser tudo isso em nossa vida, que o vai recebendo aos poucos.
Em certos momentos, o amor Eros, que trazemos, se manifestará na forma de querer preservar esse sagrado e, consequentemente, o vínculo que temos. Queremos nos certificar de que a outra parte também cuida e se importa, tanto quanto nós mesmos, para preservar o afeto e o compromisso existentes entre nós.
Sabe aquela espiadinha básica para ver se nada está sofrendo ameaça? Agimos assim, como que dizendo: “Por favor, conserve o que eu sinto por você, porque o que tenho dentro de mim é precioso demais e estou lhe entregando! Você vai zelar por tudo isso?”
O problema é quando esse sentimento torna-se exagerado, daí provem aquele ciúme que destrói a relação. 
Na Sagrada Escritura o ciúme é tido como obra da carne, contrário aos frutos do Espírito Santo (cf. Gl 5, 19-20). Não somente em relações amorosas, mas também no termo Philos o ciúme está presente. São exemplos disso: Caim que matou seu irmão Abel (cf. Gn 4), Saul com ciúme do amigo e servo Davi (cf. I Sm 18, 9). Esses casos também demonstram o ciúme como sinônimo de inveja, cobiça e complexo de inferioridade.
Somente na face Ágape não se contempla o ciúme: “O amor não tem inveja” (cf. I Cor 13, 4). São Paulo usa o termo Ágape neste capítulo todo. O ciúme, neste aspecto, é definido como: reação diante de uma ameaça real ou imaginária. É causada por projeções de experiências negativas, baixa autoestima e imaturidade emocional. 
Para não sofrermos desse impulso doentio na emoção será necessário trabalharmos a nossa cura interior no coração. Que o passado não seja o determinante do nosso presente e futuro. A vida se renova a cada dia e a todo instante há uma chance de escrever uma nova história. Que as dores de outrora sirvam apenas como experiência para caminharmos de forma mais acertada daqui em diante. Se algo vivido no passado ainda causa medo ou não permite avanço numa área de nossa vida, é hora de buscarmos auxílio. A cura interior deve ser psicológica e espiritual.
Aqui cabe a busca de sanar os três pontos acima citados: projeções negativas, imaturidade emocional e baixa autoestima. Reveja sua história, “o que é, o fato e de onde parte”  a causa da insegurança. Dentro desse processo, deve também acontecer:
O aprendizado em acreditarmos na verdade – Os fatos da realidade deixam rastros nos elementos onde quer que passem. Se ele (a) não lhe é fiel, uma hora isso virá à tona. De nada adiantará a supervisão e a neurose de encontrar evidências de traição ou desleixo da outra parte. Jesus afirma a verdade como regra, princípio e lei espiritual: "Porque nada há oculto que não deva ser descoberto, nada secreto que não deva ser publicado" (cf. Mt 4, 22).
É preciso respeitar a liberdade da pessoa amada – Não somos donos de ninguém. Temos um compromisso, mas não podemos determinar nada na vida do outro. O ponto ideal é que o (a) parceiro (a) se sinta livre. Liberdade gera equilíbrio por não querer mudar a outra pessoa no que ela é, mas em perceber sua responsabilidade no compromisso que ele (a) tem com você, sendo espontâneo (a).
Reflita sobre isso. Posso dizer que a pessoa que amo tem responsabilidade em nosso compromisso? As atitudes dele (a) com as quais não concordo realmente ameaçam o relacionamento ou são pontos que trazem desgosto e desconfiança por uma possibilidade remota de ele (a) me substituir por outro (a), ou por um outro afazer e entretenimento?
Seja curado por seu relacionamento e não uma pessoa doente afetivamente. O que é de cada um, aquilo que Deus tem para nós, virá de uma forma ou de outra. Se hoje algo nos escapa pelas mãos, significa que não é verdadeiramente parte de nós. Então, para que se agarrar a isso tão firmemente?
Guarde a força do seu coração para os sentimentos que realmente valerão a pena. O ciúme exagerado é um desgaste desnecessário.

Deus o abençoe!

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