Bento XVI saúda os fiéis reunidos na Praça de São Pedro, no Vaticano, para a tradicional Catequese
Jacó havia enganado seu irmão Esaú, roubando-lhe o direito de receber a bênção de primogênito do pai Isaac. Após fugir e permanecer um período distante, estava retornando à terra natal, pronto para afrontar o irmão, após ter colocado em prática algumas prudentes precauções. Durante a transposição do Yabboq [corrente que deságua no Rio Jordão], é agredido de repente por um desconhecido, com o qual luta por toda uma noite, até reconhecer que é o próprio Deus.
"Toda a nossa vida é como essa longa noite de luta e de oração, a se consumar no desejo e no pedido de uma bênção de Deus que não pode ser recebida à força ou vencida contando somente com as nossas forças, mas deve ser recebida com humildade, como dom gratuito que permite, enfim, reconhecer o rosto do Senhor. E quando isso acontece, toda a nossa realidade muda, recebemos um nome novo e a bênção de Deus. [...] Aquele que se deixa abençoar por Deus, abandona-se a Ele, deixa-se transformar por Ele, torna abençoado o mundo", explica o Pontífice.
Bento XVI lembra que o texto bíblico não especifica a identidade do agressor. "Somente ao final, quando a luta estiver praticamente concluída e aquele 'alguém' aparecer, somente então Jacó o nomeará e poderá dizer que lutou com Deus".
Da mesma forma, não é possível saber qual o andamento da luta, quem levará a melhor. Apesar de Jacó ter sido ferido no fêmur, é seu adversário que parece retido e derrotado. Jacó pede que ele o abençoe, quem sabe já entrevendo as conotações divinas.
"O rival pergunta seu nome: 'Como te chamas?'. E o Patriarca respondeu: 'Jacó' (v. 28). Aqui, a luta sofre um importante ponto de viragem. Conhecer o nome de alguém, de fato, implica uma espécie de poder sobre a pessoa, porque o nome, na mentalidade bíblica, contém a realidade mais profunda do indivíduo, revelando o secreto e seu destino. Conhecer o nome quer dizer então conhecer a verdade do outro e isso implica poder dominá-lo. Quando, então, a pedido do desconhecido, Jacó revela o próprio nome, se está colocando nas mãos de seu oponente, é uma forma de rendição, de entrega total de si mesmo ao outro", explica.
No entanto, Jacó recebe um nome novo, juntamente ao reconhecimento da vitória por parte do adversário, que lhe diz: "Teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os homens, e venceste" (v. 29).
"Jacó prevaleceu, venceu – é o adversário próprio a afirmá-lo –, mas a sua nova identidade, recebida do mesmo adversário, afirma e testemunha a vitória de Deus. E quando Jacó solicitar, por sua vez, o nome de seu adversário, esse recusará dizê-lo, mas se revelará em um gesto inequívoco, dando a bênção. Aquela bênção que o Patriarca havia pedido no início da luta lhe é agora concedida. E não é a bênção recebida através do engano, mas aquela gratuitamente dada por Deus, que Jacó pode receber porque está sozinho, sem proteção, sem astúcias e enganos, encontra-se inerme, aceita entregar-se e confessa a verdade sobre si mesmo. Assim, ao final da luta, recebida a bênção, o Patriarca pode finalmente reconhecer o outro, o Deus da bênção".
Modelo
Segundo o Bispo de Roma, o episódio da luta no Yabboq oferece-se assim ao crente como texto modelo em que o povo de Israel fala da própria origem e delineia os traços de uma particular relação entre Deus e o homem. "O texto bíblico fala-nos da longa noite da busca de Deus, da luta por conhecer seu nome e ver seu rosto; é a noite da oração que com persistência e perseverança pede a Deus a bênção e um nome novo, uma nova realidade fruto de conversão e de perdão. [...] A relação com Deus que, na oração, encontra a sua máxima expressão", define.
"A noite de Jacó ao transpor o Yabboq torna-se assim, para o crente, um ponto de referência para compreender a relação com Deus que, na oração, encontra a sua máxima expressão. A oração requer confiança, proximidade, quase em um corpo a corpo simbólico não com um Deus inimigo, adversário, mas com um Senhor que abençoa e permanece sempre misterioso, que parece inalcançável. Por isso, o autor sacro utiliza o símbolo da luta, que implica força de ânimo, perseverança, tenacidade para alcançar aquilo que se deseja. E se o objeto do desejo é a relação com Deus, a sua bênção e o seu amor, então a luta não poderá senão culminar no dom de si mesmo a Deus, no reconhecer a própria debilidade, que vence exatamente quando chega a entregar-se nas mãos misericordiosas de Deus".
A audiência
O encontro do Bispo de Roma com os cerca de 15 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro aconteceu às 10h30 (horário de Roma - 5h30 no horário de Brasília). A reflexão faz parte da "Escola de Oração", iniciada pelo Papa naCatequese de 4 de maio.
Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:
"Queridos peregrinos vindos de Portugal e do Brasil, nomeadamente da paróquia de Itú, agradeço a vossa presença e quanto a mesma significa de confissão de fé e amor a Deus. Procurai sempre na oração o auxílio do Senhor para combater a boa batalha da fé. De coração, a todos abençôo. Ide com Deus!".
Da mesma forma, não é possível saber qual o andamento da luta, quem levará a melhor. Apesar de Jacó ter sido ferido no fêmur, é seu adversário que parece retido e derrotado. Jacó pede que ele o abençoe, quem sabe já entrevendo as conotações divinas.
"O rival pergunta seu nome: 'Como te chamas?'. E o Patriarca respondeu: 'Jacó' (v. 28). Aqui, a luta sofre um importante ponto de viragem. Conhecer o nome de alguém, de fato, implica uma espécie de poder sobre a pessoa, porque o nome, na mentalidade bíblica, contém a realidade mais profunda do indivíduo, revelando o secreto e seu destino. Conhecer o nome quer dizer então conhecer a verdade do outro e isso implica poder dominá-lo. Quando, então, a pedido do desconhecido, Jacó revela o próprio nome, se está colocando nas mãos de seu oponente, é uma forma de rendição, de entrega total de si mesmo ao outro", explica.
No entanto, Jacó recebe um nome novo, juntamente ao reconhecimento da vitória por parte do adversário, que lhe diz: "Teu nome não será mais Jacó, tornou ele, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os homens, e venceste" (v. 29).
"Jacó prevaleceu, venceu – é o adversário próprio a afirmá-lo –, mas a sua nova identidade, recebida do mesmo adversário, afirma e testemunha a vitória de Deus. E quando Jacó solicitar, por sua vez, o nome de seu adversário, esse recusará dizê-lo, mas se revelará em um gesto inequívoco, dando a bênção. Aquela bênção que o Patriarca havia pedido no início da luta lhe é agora concedida. E não é a bênção recebida através do engano, mas aquela gratuitamente dada por Deus, que Jacó pode receber porque está sozinho, sem proteção, sem astúcias e enganos, encontra-se inerme, aceita entregar-se e confessa a verdade sobre si mesmo. Assim, ao final da luta, recebida a bênção, o Patriarca pode finalmente reconhecer o outro, o Deus da bênção".
Modelo
Segundo o Bispo de Roma, o episódio da luta no Yabboq oferece-se assim ao crente como texto modelo em que o povo de Israel fala da própria origem e delineia os traços de uma particular relação entre Deus e o homem. "O texto bíblico fala-nos da longa noite da busca de Deus, da luta por conhecer seu nome e ver seu rosto; é a noite da oração que com persistência e perseverança pede a Deus a bênção e um nome novo, uma nova realidade fruto de conversão e de perdão. [...] A relação com Deus que, na oração, encontra a sua máxima expressão", define.
"A noite de Jacó ao transpor o Yabboq torna-se assim, para o crente, um ponto de referência para compreender a relação com Deus que, na oração, encontra a sua máxima expressão. A oração requer confiança, proximidade, quase em um corpo a corpo simbólico não com um Deus inimigo, adversário, mas com um Senhor que abençoa e permanece sempre misterioso, que parece inalcançável. Por isso, o autor sacro utiliza o símbolo da luta, que implica força de ânimo, perseverança, tenacidade para alcançar aquilo que se deseja. E se o objeto do desejo é a relação com Deus, a sua bênção e o seu amor, então a luta não poderá senão culminar no dom de si mesmo a Deus, no reconhecer a própria debilidade, que vence exatamente quando chega a entregar-se nas mãos misericordiosas de Deus".
A audiência
O encontro do Bispo de Roma com os cerca de 15 mil fiéis reunidos na Praça de São Pedro aconteceu às 10h30 (horário de Roma - 5h30 no horário de Brasília). A reflexão faz parte da "Escola de Oração", iniciada pelo Papa naCatequese de 4 de maio.
Na saudação aos fiéis de língua portuguesa, o Papa salientou:
"Queridos peregrinos vindos de Portugal e do Brasil, nomeadamente da paróquia de Itú, agradeço a vossa presença e quanto a mesma significa de confissão de fé e amor a Deus. Procurai sempre na oração o auxílio do Senhor para combater a boa batalha da fé. De coração, a todos abençôo. Ide com Deus!".
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