Varsóvia, 5 jun (EFE).- A luta dos chamados "Cidadãos pela cultura" conseguiu reunir mais de 100 mil assinaturas e forçar o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, a assinar um compromisso para aumentar a verba destinada à cultura até o mínimo de 1% do orçamento, para promovê-la como motor da sociedade.
O pacto é o primeiro acordo firmado por Governo polonês com os cidadãos desde a década de 80, quando o Executivo concordou que a cultura não é só arte e criatividade, mas um elemento-chave para melhorar a vida dos indivíduos e garantir o futuro do país, explicou à Agência EFE a vice-diretora do Museu Nacional da Polônia, Beata Chmiel.
Chmiel é uma das incentivadoras do movimento "Cidadãos pela cultura", do qual fazem parte figuras como a poetisa Wislawa Szymborska, prêmio Nobel de Literatura, e o compositor Krzysztof Penderecki, junto a milhares de poloneses anônimos.
"Não se trata do problema de um grupo de artistas, mas a promoção da cultura é uma questão nacional apoiada por pessoas de todo os tipos, pessoas que entendem que a finalidade real da cultura é mudar a vida das pessoas", acrescenta Chmiel.
O pacto prevê o aumento progressivo do orçamento do Ministério da Cultura até alcançar o mínimo de 1% em 2015, o que superaria o exíguo 0,5% destinado atualmente e tiraria a Polônia do fim da fila na União Europeia quanto a investimentos em cultura.
Os "Cidadãos pela cultura" denunciam que o número de pessoas que não têm acesso à cultura aumentou na Polônia nos últimos anos, o que se traduz no avanço do analfabetismo funcional e em um freio ao desenvolvimento do capital intelectual da sociedade.
Ao mesmo tempo, a "grande cultura" polonesa desfruta de um sucesso sem precedentes, com o cinema, o teatro, a música e a literatura da Polônia fazendo sucesso em todo o mundo e afastada dos cidadãos menos abastados.
"A chave é desenvolver o capital humano", assinala Chmiel, que considera evidente que, em um futuro onde serão menos necessários os trabalhadores físicos, é preciso contar com pessoas capazes de desenvolver suas habilidades e serem partes ativas da sociedade.
Uma das prioridades deste pacto pela cultura é promover a leitura para construir uma atitude criativa, ativa e cívica que, definitivamente, permita aos cidadãos participarem da cultura e relacionarem-se civicamente.
"Temos de entender que o livro não é um instrumento de opressão, e sim uma ferramenta que dá perspectiva", afirma Chmiel.
No próximo verão - no Hemisfério Norte -, a Polônia assumirá a presidência rotativa da UE e, em 2016, uma cidade polonesa e outra espanhola compartilharão o título de capital cultural europeia, uma oportunidade que muitos cidadãos querem aproveitar para situar a cultura como uma prioridade.
Para Beata Chmiel, o desenvolvimento da cultura na sociedade é tão valioso que pode ajudar a mudar a mentalidade polonesa, culpada, em sua opinião, de muitos dos problemas políticos vividos pelo país, da incapacidade para tirar vantagem dos fundos europeus e inclusive das derrotas no futebol.
"Os poloneses não foram ensinados a trabalhar em equipe, a entender a solidariedade, e tudo isto pode mudar se investirmos em capital humano e em cultura, não só em infraestrutura", avaliou.
Por enquanto, a insistência de milhares de cidadãos como Chmiel conseguiu influenciar as altas esferas da política, um passo decisivo em uma sociedade jovem e com energia que não quer cometer os erros da velha Europa. EFE
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