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sábado, 11 de junho de 2011

Festa de Pentecostes / 12.06.11

“Todos ficaram repletos do Espírito Santo”
A liturgia de hoje nos descreve a descida do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos, em duas tradições – a de Lucas (Atos dos Apóstolos) e da Comunidade do Discípulo Amado (João 20). Salta aos olhos que uma leitura fundamentalista da bíblia – infelizmente ainda muito comum entre nós – leva a gente a um beco sem saída, pois no Evangelho de João a Ressurreição, a Ascensão e a descida do Espírito se deram no mesmo dia (Páscoa); enquanto Lucas separa os três eventos, em um período de cinquenta dias. Por isso, devemos ler os textos dentro dos interesses teológicos dos diversos autores – os 40 dias de Lucas, por exemplo, entre a Ressurreição e a Ascensão, correspondem aos 40 dias da preparação de Jesus no deserto para a sua missão. Pois, como Jesus ficou “repleto do Espírito Santo” (Lc 4, 1) e se lançou na sua missão “com a força do Espírito” (Lc 4, 14), a comunidade cristã se preparou durante o mesmo período, e na festa judaica de Pentecostes também experimentou que “todos ficaram repletos do Espírito Santo” (At 2, 4).
            Uma leitura superficial do texto de Atos dá a impressão de um relato uniforme e coeso – mas isso se deve à habilidade literária do autor. Na verdade, ele costurou um relato só, tecendo elementos de duas tradições. Uma leitura cuidadosa nos mostra essas duas tradições: a primeira está nos vv. 1-4, uma tradição mais antiga e apocalíptica; a segunda está nos vv. 5-11, mais profética e missionária.
Nos primeiros versículos, estamos no ambiente de uma casa, onde os discípulos se reuniram. Atos nos faz lembrar que estavam reunidos três grupos distintos: os Onze; as mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus; e os irmãos do Senhor. Embora talvez representem três tradições cristológicas diferentes no tempo de Lucas, ele faz questão de enfatizar que todos estavam reunidos com “os mesmos sentimentos, e eram assíduos na oração” (At 1, 14). Quer dizer, a descida do Espírito não é algo mágico, mas consequência da unidade na fé e no seguimento do projeto de Jesus.
            O primeiro relato (vv. 1-4) usa imagens apocalípticas, símbolos da teofania, ou da manifestação da presença de Deus – o som de um vendaval e as línguas de fogo. A expressão externa da descida do Espírito é o “falar em outras línguas” (não o “falar em línguas” – glossolalia – tão valorizado por muitos grupos de cunho neo-pentecostal).
A segunda tradição muda o enfoque. O ambiente muda da casa para um lugar público – provavelmente o pátio do Templo. O sinal visível da presença do Espírito não é mais o falar em outras línguas, mas o fato que todos os presentes pudessem “ouvir, na sua própria língua, os discípulos falarem” (At 1, 6). O termo “ouvir” aqui implica também “compreender”. Três vezes o relato destaca o fato dos presentes poderem “ouvir” na sua própria língua (vv. 6, 8 e 11). Assim, Lucas quer enfatizar que o dom do Espírito Santo tem um objetivo missionário e profético – de fazer com que toda a humanidade possa ouvir e compreender a nova linguagem, que une todas as raças e culturas – ou seja, a do amor, da solidariedade, do projeto de Jesus, do Reino de Deus.
            A lista dos presentes tem um sentido especial – estão mencionadas raças, áreas geográficas, culturas e religiões. Todos ouvem as maravilhas do Senhor. Assim, Lucas ensina que a aceitação do Evangelho não exige deixar a identidade cultural. Contesta a dominação cultural, ou seja, a identificação do Evangelho com uma cultura específica. Durante séculos este fato foi esquecido nas Igrejas, e identificava-se o Evangelho com a sua expressão cultural européia. Nos últimos anos, a Igreja tem insistido muito na necessidade da “inculturação”, de anunciar e vivenciar a mensagem de Jesus dentro das expressões culturais das diversas raças e etnias. O texto é uma releitura da Torre de Babel, onde a língua única era o instrumento de um projeto de dominação (uma torre até o céu!) que foi destruído por Deus pela diversidade de línguas. Nenhuma cultura ou etnia pode identificar o evangelho com a sua expressão cultural dele.
Hoje é uma grande festa missionária. Marca a transformação da Igreja de uma seita judaica a uma comunidade universal, missionária, mas não proselitista, comprometida com a construção do Reino de Deus “até os confins da terra”. Lucas insiste que a experiência de Pentecostes não se limita a um evento – é uma experiência contínua – por isso relata novas descidas do Espírito Santo: em uma comunidade em oração em casa (At 4, 31), sobre os samaritanos (At 8, 17), e, para o espanto dos judeu-cristãos ortodoxos, sobre os pagãos na casa do Cornélio (At 10, 4). Pois, o Espírito Santo sopra onde quer, sobre quem quer, em favor do Reino de Deus.
Aprendamos do texto de Atos, e celebremos a nossa vocação missionária, não a de falar em línguas, mas de falar a língua única do amor e do compromisso com o Reino, para que a mensagem do Evangelho penetre todos os povos, culturas, raças e etnias.
* Jo 20, 19-23: No texto anterior ao de hoje, Maria Madalena trouxe a notícia da Ressurreição aos discípulos incrédulos. Agora é o próprio Jesus que aparece a eles. Não há reprovação nem queixa nas suas palavras, apesar da infidelidade de todos eles; mas, somente a alegria e a paz que Jesus tinha prometido no Último Discurso. Duas vezes Jesus proclama o seu desejo para a comunidade dos seus discípulos: “A paz esteja com vocês”. O nosso termo “paz” procura traduzir – embora de uma maneira inadequada – o termo hebraico “Shalom”, que é muito mais do que “paz” conforme o nosso mundo a compreende. O “Shalom” é a paz que vem da presença de Deus, da justiça do Reino. Na proclamação do saudoso Papa Paulo VI “A justiça é o novo nome da paz!”. Jesus não promete a paz do comodismo, mas pelo contrário, envia os seus discípulos na missão árdua em favor do Reino, mas promete o shalom, pois Ele nunca abandonará quem procura viver na fidelidade ao projeto de Deus.
            Jesus soprou sobre os discípulos, como Deus fez (é o mesmo termo) sobre Adão quando infundiu nele o espírito de vida; Jesus os recria com o Espírito Santo.
Normalmente imaginamos o Espírito Santo descendo sobre os discípulos em Pentecostes; mas, aquilo era a descida oficial e pública do Espírito para dirigir a missão da Igreja no mundo. Para João, o dom do Espírito, que da sua natureza é invisível, flui da glorificação de Jesus, da sua volta ao Pai. O dom do Espírito neste texto tem a ver com o perdão dos pecados.
Que a celebração nos anime para que busquemos a criação de um mundo onde realmente possa reinar o Shalom, não a paz falsa das armas, da opressão e da injustiça, mas do Reino de Deus, fruto de justiça, solidariedade e fraternidade. Jesus nos deu o Espírito Santo – agora depende de nós usar essa força que temos na construção do mundo que Deus quer.
Pe. Tomaz Hughes, SVD

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