Agências humanitárias relatam situação de caos na principal cidade do país, Abidjã
As agências humanitárias das Nações Unidas descreveram nesta terça-feira (5) uma situação de caos na principal cidade da Costa do Marfim, Abidjã, com corpos há dias espalhados nas ruas, hospitais fechados, ambulâncias atingidas por tiros e a população trancada em suas casas.
Em entrevista coletiva, Elisabeth Byrs, porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (Ocha), relata que até mesmo as ambulâncias são alvos de tiros e os serviços públicos não funcionam.
- Há dezenas de corpos estendidos nas ruas e que ninguém recolhe. O acesso à população é impossível. Os funcionários humanitários também devem ficar trancados em suas casas por motivos de segurança, pedimos às partes envolvidas que, por favor, protejam os cidadãos.
Os porta-vozes falaram sobre vários casos extremos, como a aglomeração de 3.000 malineses que, fugindo dos combates, se refugiaram na embaixada do Mali em Abidjã.
Duékoué concentra mais de 25 mil refugiados
A situação também é extremamente difícil na cidade de Duékoué, no oeste do país, onde até o momento a Organização Mundial das Migrações (OIM) presta assistência a mais de 25 mil refugiados internos, que buscaram ajuda nos arredores de uma missão católica, e que precisam "desesperadamente de comida, água, abrigo e assistência médica", assinalou o porta-voz da OIM, Jean-Philippe Chauzy.
- O acesso à água é o maior problema, tanto para beber como para manter os mínimos padrões de higiene. Já foram registrados os primeiros casos de diarreias e tememos a proliferação de doenças.
O atendimento aos refugiados é realizado em coordenação com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e o Programa Mundial de Alimentos (PAM), voltado especialmente a mulheres e crianças traumatizadas pelo massacre da semana passada no distrito de Carrefour, em Duékoué.
O porta-voz do Escritório da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Rupert Colville, assinalou que há investigações em curso sobre o massacre e que as impressões preliminares indicam "várias centenas de pessoas assassinadas".
ONU e França passam a interferir na guerra civil
A grave crise política que atinge a Costa do Marfim começou em novembro passado, quando o presidente Laurent Gbagbo perdeu as eleições presidenciais para Alassane Ouattara, mas se recusa desde então a entregar o poder.
A batalha de Abdijã, iniciada em 31 de março pelas forças do presidente reconhecido pela comunidade internacional, Ouattara, adquiriu outra dimensão com a participação desde segunda-feira (4) da ONU e da França.
Segundo Ahoua Don Mello, porta-voz de Gbagbo, as forças do presidente controlam o palácio presidencial em Abidjã, assim como a residência presidencial e o acampamento militar de Agban.
Indagado sobre uma possível rendição de Gbagbo, o porta-voz disse que "neste momento, isso não está sendo considerado". No entanto, à RFI (Rádio França Internacional) Ally Coulibaly, embaixador na França nomeado por Ouattara, disse que estaria sendo negociada uma rendição.
Os "bombardeios" da ONU e da França contra alvos militares em Abidjã provocaram "muitos mortos", atesta Mello, já que "os militares vivem com suas famílias nos acampamentos" militares, acrescentou.
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