Pelo menos 25 pessoas morreram e várias dezenas de outras ficaram feridas quando as forças de segurança sírias dispararam ontem contra protestos de civis por causa das vítimas de anteriores manifestações anti-Governo na cidade de Deraa, no sul do país.
O principal hospital nos subúrbios de Deraa recebeu 25 corpos durante a tarde de ontem, “todos com ferimentos causados por balas”, descreveu já hoje fonte clínica, sob anonimato, à agência noticiosa britânica Reuters. Com estas vítimas, o balanço de mortos na repressão das manifestações anti-regime por parte das forças de segurança, desde a passada sexta-feira, ascende já a 32.
Depois do ataque ontem de manhã às portas da mesquita de Omari – centro nevrálgico dos protestos sem precedentes contra o Presidente, Bashar al-Assad –, em que terão então morrido seis pessoas, as forças de segurança carregaram já à tarde contra uma marcha de jovens nos arredores da cidade. Um activista dos direitos humanos, ouvido pela BBC, o qual listou o nome de 37 pessoas mortas, relata que as tropas dispararam também contra centenas de pessoas que estavam presentes nessa noite nos funerais das vítimas do ataque a Omari.
Os manifestantes reivindicam a Al-Assad maiores liberdades políticas e o fim da corrupção, num movimento de contestação inspirado pelas revoluções que depuseram os chefes de Estado da Tunísia e Egipto e cuja convulsão se propaga actualmente por vários países do Norte de África e Médio Oriente.
A última vaga de violenta repressão começara ontem quando centenas de pessoas se juntaram junto à mesquita de Omari para impedir as tropas de invadirem o local. Residentes descreveram que as forças de segurança fizeram um “massacre” de “cidadãos pacíficos, inocentes e sem defesas, que não tinham sequer pedras com as quais se defenderem”.
Depois disso, centenas de jovens de aldeias próximas de Deraa juntaram-se nos arredores a norte daquela cidade e tentaram desde aí encetar uma caminhada em direcção ao centro metropolitano, tendo sido interceptados pela polícia que disparou sobre eles munições reais e gás lacrimogéneo. “Nem conseguíamos perceber de que lado vinham as balas. Ninguém conseguia socorrer aqueles que caíam”, contou uma testemunha à agência noticiosa francesa AFP.
Hoje Deraa está mergulhada num enorme aparato de segurança, com soldados empunhando espingardas AK-47 a patrulharem as ruas e membros das unidades especiais da polícia e da polícia secreta, uniformizados de preto, a serem avistados por vários residentes.
França pede a Al-Assad diálogo com a oposição
O Governo francês, cujo país foi antigo colonizador da Síria (como o fora também da Tunísia), apelou hoje às autoridades sírias “a abrirem vias de diálogo” e a “encetarem reformas democráticas” no país.
“Está em curso uma grande mudança. Durante muito tempo a política externa da França para o mundo árabe foi a visar a estabilidade. Hoje essa política tem como objectivo ouvir as aspirações dos povos e isso aplica-se também à Síria, que tem que acordar para este movimento”, avisou o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Alain Juppé.
Paris tem repetidamente condenado o que descreve como “uso excessivo de força” por parte das autoridades sírias contra os protestos anti-regime e exige que seja feita uma investigação à morte dos civis assim como à detenção de manifestantes.
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