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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Religião salva?

Na maioria das vezes, quando alguém pergunta se religião salva, está querendo saber se é necessário pertencer a uma agremiação religiosa para alcançar a salvação. Essas pessoas têm, portanto, a noção de salvação associada à expectativa de que, após a morte, ressuscitarão e receberão a recompensa pelo modo como conduziram suas vidas. Mas, para alcançar a vida eterna não seria suficiente fazer o bem? Praticar uma religião muda alguma coisa? Afinal, existem tantas pessoas religiosas que se comportam com hipocrisia e maldade!
A prática do bem é muito importante. A despeito das variações culturais, a humanidade tende para a constituição de uma espécie de código de ética universal, que estabelece alguns valores como válidos para todos os homens em todos os tempos. Assim, o amor ao próximo, a paz, a honestidade e a verdade, entre outras coisas, devem ser perseguidas por todo ser humano em qualquer povo.
Em geral, quando uma pessoa busca sinceramente a verdade e o bem, ela caminha em direção a Deus, que é o Sumo Bem. Mesmo que não intente diretamente seguir os preceitos de uma religião, sua procura sincera faz com que ela esbarre em Deus e a Ele se 
religue. Ao receber o anúncio do Evangelho, a pessoa tende a perceber que, na verdade, procura uma religião, ou seja, ela quer religar-se a Deus. Seu esforço altruísta é apenas uma manifestação desse desejo. Nesse momento, escusar-se de praticar religião por orgulho ou comodismo significa desviar-se de Deus e, portanto, desviar-se do bem.1 Então, mesmo que pratique obras boas, não poderá se salvar, porque se nega a acolher o Salvador. Nesse sentido, religião salva!
Mas não adianta ser religioso e não praticar o bem. Isso se constitui num grande escândalo, que faz com que muitas pessoas temam aproximar-se da prática religiosa. Aceitar e propagar os preceitos de uma determinada religião, cumprir com todos os seus ritos individuais e coletivos, externar sua adesão e, ao mesmo tempo, comportar-se com maldade e falta de amor, de nada adianta: “Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor não sou nada” (1 Cor 13, 2). Nesse sentido, 
religião não salva!
Evidentemente, nem todas as religiões são verdadeiras. Elas são diferentes e, às vezes, divergem frontalmente numa mesma matéria. Como poderiam ser todas verdadeiras se pregam coisas opostas? Normalmente, quem defende que as religiões são todas iguais é porque não quer praticar nenhuma, pois não quer compromisso com ninguém. Isso reflete a condição de alguém fechado em si mesmo, que assume uma postura egoísta diante de certos desafios da vida.
Todas as religiões contêm “sementes” da verdade e pessoas de qualquer religião que buscam sinceramente a Deus podem se salvar. Além disso, as religiões podem e devem se respeitar, reforçando seus pontos comuns em vez de realçar suas diferenças. Mas é preciso proceder a um discernimento e acolher a verdade.
Jesus Cristo é a verdade. Ele quis salvar o mundo através da Igreja. Ela é a via normal da salvação, embora não a única: “Deus pode por caminhos dele conhecidos levar à fé todos os homens que sem culpa própria ignoram o Evangelho”.2 Se o homem reconhece, realmente, a necessidade de ser salvo, reconhecerá também, quando o Evangelho lhe for mostrado, a necessidade de ser cristão. Se jamais se deparar com a mensagem salvífica de Cristo, encontrará em sua própria consciência, de algum modo, o caminho para o infinito. Mesmo que não pratique religião!
1 A não ser que algumas razões objetivas graves minimizem ou até eliminem sua imputação.
2 Cf. CATECISMO da Igreja Católica, n. 848.

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